quarta-feira, novembro 01, 2006

Fazes-me Falta

Simples título este, desde logo elucidativo, forte na sua carga emocional, no seu desejo directo. Assim se vai desenvolvendo a narração no romance Fazes-me Falta (2002) de Inês Pedrosa (1962-), por entre recordações sujeitas ao juízo de duas personagens que se completam. A visão feminina e masculina dos mesmos acontecimentos, duas narrações antagónicas, divididas por um olhar cruzado que impossibilita a reconciliação, mas vive do arrependimento. São inesquecíveis as memórias afogadas num oceano de sensações que vão discorrendo e dando a descobrir duas figuras enigmáticas que têm voz principal, uma após a outra, numa visão muito própria sobre o mesmo passado nebuloso mas que se vai exorcizando sobre pena de muito ainda ter ficado por dizer. Toda uma vida reunida em hiatos de tempo, sincopada em fragmentos que o leitor vai reunindo e reconstituindo, como se de um puzzle se tratasse. Às voltas, às voltas, vamos compreendendo a vontade e os motivos de cada um dos protagonistas de uma história que é a vida a falar na consciência. A dança da vida, nos seus salões políticos, sociais, familiares, mas com reflexos íntimos e pessoais incalculáveis. Da vida faz intrinsecamente parte a morte, ela sim dita cruelmente a separação física, deixando para trás um sentimento horrível de perda irreparável. Embalados pelo desejo íntimo de pertença, o par está afinal unido pelo único elo de ligação possível, o amor.


De Campos


“Não importa o que se ama. Importa a matéria desse amor. As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor. As palavras são só um princípio – nem sequer o princípio. Porque no amor os princípios, os meios, os fins são apenas fragmentos de uma história que continua para lá dela, antes e depois do sangue breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O sujo, a luz, o áspero, o macio, a falha, a persistência.” (Fazes-me Falta, 125)

Inês Pedrosa, Fazes-me Falta (Publicações Dom Quixote, 13ª Edição, Abril de 2004)

1 Comments:

At 01 novembro, 2006 23:24, Anonymous Anónimo said...

"Às voltas, às voltas, vamos compreendendo a vontade e os motivos de cada um dos protagonistas de uma história que é a vida a falar na consciência"... "Embalados pelo desejo íntimo de pertença, o par está afinal unido pelo único elo de ligação possível, o amor."

Gostei!!!! E mais do que nunca percebo exactamente o que a autora quer dizer....

Adorei este artigo... Parabéns Carissimo :-)

 

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