quinta-feira, janeiro 11, 2007

A Cinderela das artes performativas


Martin Kettle

Parte II

A dança e o desenho são as duas verdadeiras formas de arte universais. A dança é universal de uma forma a que nem o canto se pode equiparar. Certamente porque a dança é uma afirmação tão explícita e reconhecível do que é ser humano. Todo o gesto e padrão dizem: nós somos mais do que bestas estúpidas e condenadas. Eles dizem: somos indivíduos (“olha para mim”) e comunidades (“olha para nós”). E dizem, essencialmente, que o mundo pode ser um lugar melhor. A dança é esperança. A Singing in the Rain de Gene Kelly é optimismo incarnado. Uma dança de morte é a contradicção última.

Todas as artes musicais expressam esta ideia de perfeição. A dança, contudo, fá-lo na forma mais directamente física e aspirativa. E fá-lo em quase toda a tradição cultural no planeta. Se há uma forma de actividade humana que se estende por géneros, grupos etários, classes sociais e por fronteiras culturais é a dança.

Esta universalidade torna a dança intensamente democrática – muito mais que outras artes performativas. Todos dançamos, ou pelo menos, tentamos. Num mundo multicultural isso torna a dança num tesouro único. A dança é uma resistência contra todo o tipo de deformações da mente. É uma das razões porque o Billy Elliot é uma experiência tão poderosa. Diz não haver barreiras para o que um rapaz de uma classe operária pode alcançar.

Se a dança é tão fundamental, tão universal e tão apreciável, então porque é que não a valoramos mais? Quanto mais pensamos no assunto, maior o potencial da dança não só para simbolizar um mundo melhor mas para ajudar a tornar o mundo real melhor. Eu sou incondicionalmente a favor de subsidiar as artes pelo que elas são. Mas pensem na dança na perspectiva de política pública também. Torna as pessoas fisicamente mais saudáveis. Encoraja-as a expressarem-se e a controlarem os seus corpos. Proporciona uma actividade comunitária que tira as pessoas das suas casas e das ruas. Proporciona um guarda-chuva debaixo do qual diferentes tradições culturais podem prosperar.

Investir em dança deveria ser um acto intuitivo. Mas não se faz nada disso. Os subsídios são pateticamente pequenos e filtrados para as grandes cidades, as classes médias e os mais novos. Todos os meninos que representam o Billy Elliot no teatro são de colégios privados; um verdadeiro Billy de uma classe operária passaria trabalhos para conseguir uma audição para se representar a si mesmo.

Talvez as coisas mudem. Será necessário um salto na imaginação tão grande como qualquer salto de um dançarino, se vier a acontecer – e perante o cenário de contenção financeira. Mas o dançarino consegue dar o salto magnífico. Então, porque é que nós não havemos de conseguir?

Martin Kettle

The Cinderella of performing arts for once goes to the ball

In The Guardian, 23/12/2006, pp. 25.

Traduzido e adaptado por

De Campos

1 Comments:

At 11 janeiro, 2007 09:34, Anonymous Anónimo said...

ADOREI!!!
Falas de um ds meus filmes preferidos, o "Billy Elliot"!
E no artigo, a referência ao Optimismo e à dança é de facto verdadeiro. Não podemos negar que todos os problemas rotineiros parecem desaparecer quando começamos a dançar. Como diria o próprio Billy Elliot "... sinto-me a voar e assim desapareço"
No youtube podemos relembrar este filme: http://www.youtube.com/watch?v=TMWmpP1WqLw

Beijos a todos

 

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