O Baile
Uma comédia dançanteActo I
Cena I
(continuação)
Uma outra mulher acaba de chegar ao café adensado pelo fumo. De estatura média, cabelos negros e face coberta por cosmética sofisticada, procura desesperadamente entre as mesas alguém. Tem cara de boneca, olhar penetrante e veste em estilo harmonioso, moderno e independente. Os dedos da mão direita seguram um cigarro acabado à pressa e mostram o verniz escarlate das unhas, também um sinal de libertação feminina. Hesitante caminha em direcção à mesa onde as duas amigas se encontram. Distribuídos os beijos, senta-se, ansiosa por contar as últimas novidades.
Rosário: Temos que nos despachar, já falta pouco para o baile! Chegaram há muito? Desculpem a demora, mas foi impossível aqui chegar antes. O trânsito está caótico. Houve um acidente na via rápida, pelos vistos, em excesso de velocidade uma carrinha de caixa aberta atropelou uma senhora que tentava atravessar a via, apareceu entre as divisórias. Nem sequer se importou com a travessia aérea cem metros mais acima. Com o mal estado do piso também não admira que seja fácil atropelar alguém e os limitadores de velocidade que tardam! Sempre que passo naquela via vou com o coração nas mãos. Surge sempre uma cabeça entre as divisórias a tentar atravessar, os camiões passam a velocidade de cruzeiro! Eu conduzo sempre entre faixas, tal é o ruído no asfalto e o número de buracos acumulados. As estradas do estado são um calvário permanente, buracos e mais buracos. Agora nas nacionais é preciso coragem para conduzir! Primeiro o estaleiro, as obras que se dizem fazer, as máquinas e os operários que por lá andam e a eternidade que demoram a realizar os trabalhos. Há quem diga que é por falta de pagamento do estado. Iniciam as obras e são capazes de as deixar a meio por falta de pagamento! Quem paga somos nós! Lombas atrás de lombas. Há tempos contei os buracos e as lombas na estrada nacional, só numa recta de dois km eram mais de quarenta. Não havia sinalização adequada, só em cima do acontecimento. Entre obras, os semáforos alternantes não estavam a funcionar e dois trolhas estrategicamente posicionados faziam andar o trânsito vagarosamente. Agora até já têm uns stops, sempre é melhor que os pedaços de ramos que presenteavam aos últimos condutores para dar sinal de passagem ao trânsito em sentido contrário.
(continua)
De Campos
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