sexta-feira, março 16, 2007

O Baile

Uma comédia dançante

Acto I

Cena I

(continuação)

Rosário: E vão entendidos na matéria à televisão defender que no Norte as estradas nacionais servem perfeitamente. Eu ouvi o arquitecto Rebelo de Sousa recusar a proposta da construção de auto-estradas. Até concordaria com ele se as nacionais não passassem perto de populações. O caminho é às vezes tão estreito que nem espaço há para passeios pedonais. Só falta as casas entrarem pela estrada; fizeram variantes nas principais cidades, mas deixaram as freguesias crescer em fogos fantasmas e para cima das rodovias. O volume de trânsito aumenta de dia para dia, mais carros, mais motociclos, mais camiões. Não criaram alternativas e havendo uma só via, os acidentes em proporção aumentam. São os cruzamentos mortais, os choques em cadeia, os atropelamentos com fuga e, para infernizar ainda mais a vida de quem circula, os mirones, que fazem questão de deixar os carros na berma da estrada para ver o que se passa.

Conceição: Já era! Há alternativa sim Senhor e chama-se auto-estrada. A pagar, muito bem, mas com um tapete fantástico, anti-derrapante, lisinho, perfeito para aquecer os motores. Tenho esticado bem o meu Audi e nas descidas já atingi quase os duzentos e vinte. Só tenho mais medo à noite. Há uns dias tive que ir a Vila Real em trabalho e quis experimentar novo traçado, apesar de ser mais caro! Regressei já de noite e não é que um fulano se colou a mim e olhem que eu não ia a cento e vinte! Dava-me sinais de luzes e guinava o carro bruscamente. Comecei a ficar com medo, mas não podia fazer nada a não ser acelerar ainda mais. A certa altura, a besta ultrapassa-me e aperta-me de tal forma que foi por sorte não ter chocado com os railes de protecção. Fiquei danada e juro que não sei onde fui buscar forças, mas fiz-me à estrada de novo, liguei o turbo até conseguir chegar o suficientemente perto para ler a matrícula do carro. Deixei-o ir e liguei para a polícia que me puseram em contacto com a Brigada de Trânsito. Pois fiquem sabendo, já a descer para o Porto, interceptaram o gajo e conduziram-no até à estação de serviço. Quando estava a passar no sítio, vi que estavam lá a conversar com o gajo e resolvi pedir satisfações. Se eu tivesse uma pistola, dava-lhe um tiro nos cornos. A sorte dele foi o polícia me ter segurado pelos braços...

(continua)

De Campos

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