Danças de Salão

Tango em Chassignolles

Um dos alunos que abraçou, faz agora perto de um ano, de alma e coração os bailes de salão de S. Adrião, tem andado muito ocupado com as aulas exclusivas de tango argentino em Braga. O entusiasmo impregnou-se de tal forma, que o nosso estimado Artur, também conhecido por Caipirinhas, não descansou até encontrar uma forma de ocupar as férias com o tango. Depois de uma pesquisa na Internet, fez as malas e partiu com mulher e filhas, de carro por essa Europa fora até Chassignolles, uma pequena aldeia com pouco mais de quinhentos habitantes, bem na região Centro da França. O Baile de Sexta entrevistou-o:

Umas férias bem diferentes do que é habitual. É caso para dizer que não foste a banhos mas a tangos?

Tudo começou com uma pesquisa na Internet que resultou no entusiasmo cada vez mais crescente por umas férias diferentes e que tivessem dança pelo meio. Foi assim que dei com a proposta de uma semana em Chassignolles a aprender tango argentino no sítio www.pelerin.nl/. Enviei uma mensagem e eles aceitaram a nossa inscrição, embora as oficinas propostas fossem para pares com alguma experiência em tango argentino.

Como correu a viagem? Foi difícil dar com Chassignolles?

Mal recebemos a confirmação, fizemos as malas e partimos de carro. Como eram muitos km, acabamos por fazer a viagem em duas etapas. Dormimos em Bordéus no final do primeiro dia e até lá, no dia seguinte, foram mais cinco horas. A chegada foi complicada porque Chassignolles é uma aldeia na montanha e a estrada era estreita e sinuosa. Chegámos mesmo a tempo de jantar e logo na primeira noite passámos todo o tempo a dançar, sempre tango, sempre tango argentino.

E o dia a dia? Sempre diferente ou obedecia a uma determinada rotina?

Havia um horário flexível mas que era composto por algumas rotinas. O pequeno-almoço era entre as nove e as dez, depois prolongava-se a manhã pela oficina de tango e às treze almoçávamos. Tínhamos a tarde livre, mas como a aldeia ficava longe de tudo e de todos, ficávamos por ali mesmo, apanhando amoras, dormitando ou lendo. O jantar era servido pelas seis e meia da tarde e depois ainda tínhamos uma aula de tango entre as oito e as nove e meia. A partir dessa hora havia baile aberto, uma milonga, o baile de tango por excelência. Escusado será dizer que no final do dia estávamos estoirados e que no final da semana as dores eram mais que muitas de tantas horas a praticar!

Houve algum momento mais marcante? O que mais te impressionou?

Logo no início, quando soube que havia pessoas no pequeno grupo com anos e anos de dança, fiquei assustado, mas a mestra Joseé Kempe pôs-nos à vontade e acompanhou-nos mais pessoalmente. Apesar de não se trocar muito de par no tango, uma vez que é uma dança que exige alguma intimidade e percurso intuído a dois, foi interessante constatar a universalidade do apelo no pequeno grupo de quatro pares holandeses, um par alemão e um par português! O que mais me marcou nestas oficinas de tango foi a possibilidade de aprender a ouvir e a seguir o ritmo da música. Cada passo é uma figura e o exercício consistia em intuir figuras consoante o ritmo mais frenético ou alongado do tango. Ao contrário do tango internacional, o tango puro, o argentino, não se rege por tempos bem marcados, mas por constantes alterações rítmicas que obrigam a um caminhar dançante recheado de figuras, salpicado por um bailado constante.

Artur Cavaco Paulo
entrevistado por
Madame X
Cronista Social

afixado por de Campos @ 00:58