segunda-feira, agosto 21, 2006

Em tempos

O desejo de dançar é um dos instintos mais primitivos da humanidade. O homem pré-histórico expressava as suas emoções através do movimento na altura em que o discurso ainda não era linguagem. Os desenhos das cavernas ilustram homens a dançar e as danças eram uma forma de expressar os seus pensamentos e desejos. A vontade de nos mexermos em resposta às emoções é um facto fisiológico que sobreviverá enquanto existirmos. A persistência do ritmo e a sua íntima associação ao sexo e à vida é inegável e quando o ritmo e o movimento se juntam, nasce a dança.

Só a partir do século catorze é que se encontram registos fiáveis das danças em voga ou de um qualquer testemunho quanto à sua popularidade na altura. Todavia, um conhecimento mais formal das primeiras danças de salão seria conseguido apenas no final do século dezasseis. O padre Jehan Tabourot terá publicado em 1588, com o pseudónimo Arbeau, a sua Orchesographie. Arbeau viveu num período de transição entre a basse danse, que tinha perdurado por tanto tempo, e o género mais vivo da branle. É interessante notar que cada província tinha a sua forma particular de branle e que a Gavotte, descrita por Arbeau, era uma branle da Provença, dançada originalmente pelos habitantes de Gap, e o Minuet uma branle de Poitou. Entre outras danças descritas por Arbeau encontra-se a pavane e a galliarde, à qual Shakespeare apelidou cinq pace uma vez que era composta por cinco passos.

O Minuet, originalmente uma dança folclore de Poitou, foi introduzida em Paris em 1650 e mais tarde composta em música por Lully e dançada pelo Rei em público. Poder-se-á dizer que o Minuet dominou os salões desde então e até ao final do século dezoito. Os ballets apresentados na época de Luís XIV da França consistiam numa série de “entrées” como o Minuet e outras danças da altura. Eram danças espectáculo bem como pessoais e, sendo espectáculo, tinham que ser baseadas numa técnica que, de alguma forma, era artificial. As pernas, por exemplo, tinham de estar voltadas para fora, de modo a permitir uma “linha” mais graciosa e eram executados muitos passos meramente decorativos como entrechats e cabrioles. A primeira ruptura entre o ballet e o salão deu-se quando os dançarinos profissionais apareceram nos ballets e os ballets deixaram a corte e foram para o palco, no entanto, a influência da técnica do ballet dominou por mais de dois séculos e no final da era vitoriana (séc. XIX) os mestres de dança ainda baseavam o seu ensino nas cinco posições “para fora” do palco.

Victor Silvester, Modern Ballroom Dancing (Ebury Press, 2005 pp. 8-10)

Traduzido e adaptado por De Campos

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