quarta-feira, novembro 22, 2006

Adeus

Em primeiro lugar gostaria de dizer que este não é um adeus reservado às danças de salão, paixão continuada na minha vida. É antes um adeus triste e saudoso a alguém. Um até sempre porque tenho a esperança de o poder encontrar novamente, pois acredito piamente na vida com sentido e para além da morte. Nem sempre podemos falar de coisas alegres como quando se passa um serão a dançar. Às vezes a tristeza bate à porta e consegue ser terrivelmente dolorosa. Não pede com licença, nem sequer está interessada em saber se estamos preparados para a sua vinda. Simplesmente entra e instala-se de malas e bagagens. A morte de alguém querido é um mistério. Uma profusão de sentimentos todos eles profundamente intensos, pessoais e únicos. Um sentimento de perda pela falta que o outro nos faz, que já não está mais aqui e a quem poderíamos ter dito tanta coisa que não foi dita porque perdemos o tempo com as nossas preocupações, os nossos interesses e as nossas futilidades. Um vazio de alma por sentir que realmente pouco sentido tem em estar agarrado às coisas materiais deste mundo, que a vida se esvai num instante e que para debaixo da terra já só vai o corpo em processo de decomposição. Uma angústia colada por sentirmos que podíamos ter feito muito mais, que podíamos ter dedicado mais tempo.

Não posso sequer imaginar a dor que alimenta o dia a dia do meu amigo. Acabou de perder o pai. Ir ao funeral foi um exercício para mim de solidariedade mas também de egoísmo. Solidário para com o meu amigo, pude rever o filme da nossa infância, os nossos melhores momentos juntos, as brincadeiras na casa dele, as festas de anos e a presença do pai, sempre apaziguadora, compreensiva e dedicada. A simpatia com que o pai me recebia no local de trabalho quando eu procurava pelo meu amigo, braços abertos, a generosidade em pessoa. Um homem que transbordava de bondade. Ali na cerimónia fúnebre penso, e se fosse o meu pai? Um dia, inevitavelmente, todos morremos. Como o tempo passa depressa. Agora já só reencontro os meus amigos de infância em casamentos ou funerais. Vivemos para a profissão, casamos ou não, temos filhos ou não, acompanhamos os nossos pais na última etapa, para também nós um dia partirmos.

De Campos

4 Comments:

At 22 novembro, 2006 04:42, Anonymous Anónimo said...

A vida é assim mesmo: daqueles que partem e nos gostamos ... mas tambem daqueles que estão para chegar!... Dizem uns tais SJs sabedores que devemos que transpor os ensinamentos daqueles que partiram para os que estão para chegar. Este é o nosso legado...enquanto espécie humana
Um grande abraço

 
At 22 novembro, 2006 09:22, Anonymous Anónimo said...

Amigo,
Infelizmente todos já passámos pela perda de alguém que nos é querido... mas que mesmo assim continuam presentes na nossa vida, na nossa memoria.

Há um pensamento indiano que gostava de partilhar contigo hoje:

"A vida revela-se ao mundo como uma alegria. Há alegria no jogo eternamente variado dos seus matizes, na música das suas vozes, na dança dos seus movimentos. A morte não pode ser verdade enquanto permanecer a alegria do coração do ser humano."
(Tagore, escritor indiano)

 
At 23 novembro, 2006 05:32, Anonymous Anónimo said...

Como muitos de vós sabem, fez agora dois anos, coincidentemente no dia do Jantar Dançante, que perdi o meu pai...

Nesse tempo, tudo foi marcado pela revolta e incompreensao que a mais profunda das dores me causou... mentiria se dissesse que nao pensei que a ferida nunca haveria de fechar... mentiria se dissesse que foi fácil... mas mentiria também se dissesse que nao é possivel encontrar a paz nesse mistério que é a morte...

Dado que, infelizmente, neste assunto eu fiz uma licenciatura, passei logo para douturamento e mais pareço uma enciclopédia com permanentes fascículos de actualizaçao, aqui deixo uma dica acerca de qual, para mim, as melhores estratégias para enfrentar o maior dos dramas:

* Viver em conformidade com o que a pessoa desejava para nós, o que concerteza nao era ver a nossa permanente agonia e dor, mas sim o nosso bem e felecidade... só quando se começa a agir sob este princípio básico se volta a encontrar a paz e alegria, pois esta é a forma de estar mais próximo de quem nos deixou...

* Nunca deixar de dizer a todos os que nos rodeiam aquilo que sentimos, nao pela constante ameaça de nao rever a pessoa, mas sim porque descobri que é essa a forma mais correcta de agirmos para com os que amamos, e o segredo para estarmos sempre tranquilos, pois por palavras gestos ou actos sabemos que estes sabem o quanto os amamos...


Hoje, estas palavras fazem muito sentido para mim, mas houve um dia em que tudo o que me diziam nao tinha qualquer nexo ou causalidade, em que tudo me soava a frases feitas para pesames e lamentos... um dia em que senti que carregava nas costas uma cruz que comportava o peso da dor de toda a humanidade... nesse dia deram-me um postal que continha estas palavras, que ainda hoje sao as mais confortantes que já conheci... por isso, num espírito de solidariedade contigo Rui, e com todos, pois inevitavelmente há-de bater à porta de todos nós, abri as portas do meu coraçao e deixo-vos o seguinte:

"Pegadas na Areia"

"Uma noite eu tive um sonho.

Sonhei que estava a andar na praia Contigo Pai
e a minha frente, passavam cenas da minha vida.

Para cada cena que se passava, percebi que eram deixados
dois pares de pegadas na areia;
Um era meu e o outro era Teu.

Quando a ultima cena da minha vida passou
Diante de nos, olhei para tras, para as pegadas
Na areia e notei que muitas vezes, no caminho da
Minha vida havia apenas um par de pegadas na areia.

Notei tambem, que isso aconteceu nos momentos
Mais dificeis e angustiosos da minha vida.

Isso entristeceu-me muito, e perguntei-Te
Entao:
" Pai, Tu disseste me que, uma vez
que eu resolvi seguir Te, Tu andarias sempre
comigo, Durante a minha caminhada , notei que
nos momentos mais Dificeis da minha vida
havia apenas um par de pegadas na areia.
Nao compreendo porque nas horas que mais
necessitava de Ti,Tu me deixastes."

E Tu respodeste-me:
"Amo-te e
jamais te deixaria nas horas da tua prova
e do teu sofrimento.
Quando viste na areia, apenas um par
de pegadas, foi exactamente ai que EU,
Te carreguei nos bracos...""

Aqui ficou uma mensagem de paz e esperança... ;)

Beijinhos grandes***

 
At 26 novembro, 2006 20:44, Anonymous Anónimo said...

Em cima dos ombros de gigantes é que podemos ver o horizonte infinito...

Mors est quad vidae finis omnis laboris...

 

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