sexta-feira, janeiro 12, 2007

La Milonga

Caros amigos,

No último domingo, desloquei-me ao Porto com o nosso estimado Artur para saborear in loco uma milonga no bar El Sonero. Acontece em cada primeiro domingo de cada mês e reúne tangueros de todo o norte do País. Durante a viagem de carro para lá, o Artur não conseguia conter a excitação e falava das milongas como o baile dos bailes, a súmula de todos os bailes, o baile como expressão máxima, a rainha dos bailes! Estava, obviamente, curioso por apreciar este baile caracteristicamente argentino. Sabia também que não seria fácil para mim, iniciado nas danças, ficar de fora do baile como mero espectador.

O bar El Sonero fica bem nos meandros do Porto, numa rua transversal à constituição, coluna vertical da cidade. O apelo do bar não vem certamente de fora, meio escondido e com configuração de garagem de estacionamento. Essa impressão, acreditem, é momentânea e logo desaparece quando entramos no espaço. A dar as boas vindas estava um homem alto, com barba grisalha aparada e olhar simpático. Parco em palavras, inicialmente, ainda imaginei que fosse um argentino importado especialmente para a Milonga, mas enganei-me redondamente. O Artur logo aqueceu a conversa e antes mesmo de darmos entrada no bar, fomos brindados com bombons, oferecidos com um sorriso de ponta a ponta pelo anfitrião. Em poucos minutos, o Artur sentia-se completamente em casa e o homem alto era afinal conhecido no meio académico. Percorremos o bar até ao fundo, estava ainda meio vazio e os acordes típicos da canção argentina já se faziam soar. A decoração quente do salão deixou-nos confortados. Não eram só as luzes alaranjadas dos apliques em volta, ou os instrumentos musicais soltos nas paredes, mas também o bar em azulejo e as cadeiras em palha a dar um toque latino apaixonante ao lugar.


O homem alto abriu a Milonga com uma señorita baixa, um par assimétrico nas suas proporções, mas que dançou bem no centro da pista com paixão e alheio aos olhares curiosos que o seguiam. Dois ou três tangos a seguir, mais alguns pares se juntaram na pequena pista. Resolvemos, entretanto, trazer algo do bar. Pensei que uma cerveja fosse o mais adequado a um bar pequeno de sabor latino, mas o meu companheiro preferiu um chá. Resolvi então pedir uma cerveja sem álcool para não destoar muito! Para minha surpresa, a tortura que eu julgava ser grande por não poder dançar, por não saber ainda bailar numa milonga, foi suportável, tal o gozo que recebia de observar os pares que chegavam sem pressas.

(continua)

De Campos

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