sexta-feira, janeiro 19, 2007

O Baile

Uma comédia dançante

Acto I, Cena I

Num café recente em Braga, situado numa zona nova da cidade, entre prédios de oito andares e hipermercados de electrodomésticos. O café tem a decoração rectilínea dos cafés ultramodernos portugueses, com televisão plasma na parede e colunas envolventes que debitam som potente. As mesas são em vidro, rodeadas de cadeiras arrojadas com encosto ergonómico. Ao balcão, uma máquina de café expresso, uma montra em vidro com pastéis de nata e croissants e uma arca congeladora da olá. O café está quase vazio, mas numa das mesas ao canto, duas raparigas, nos seus trinta e tais, conversam.


Conceição: Até gostava de dançar, mas sabes como é o Paulo... Diz que não tem jeito, que isso de passinhos de bailarino não é para ele e que prefere ir para o pavilhão jogar a partida de futebol com os amigos! Sozinha não me apetece ir, também não estou para arranjar problemas lá em casa. Quando eu disse que ia, mesmo que ele não fosse, desatou logo a dizer que mulher dele não ia sozinha para danças e que estava a arranjar problemas no casamento.

Maria: O que é que queres que eu diga?! Não fazia ideia que o teu marido era assim possessivo. Tu é que o escolheste naturalmente, mas, caramba, estamos no século XXI, ainda há disso? Ele pode jogar com os amigos à bolinha e tu tens que ficar em casa! Não quero dar palpites nem me intrometer na tua vida de casada, mas vocês nem sequer há um ano estão casados e já há essa vontade dele em controlar todos os teus passos?

Conceição: Se fosse só a dança? É um pretexto para eu ficar em casa, ele é muito ciumento e, mesmo agora, que estou aqui contigo, já vai ser um sarilho quando voltar. Vai-me fazer todo o tipo de questionários, onde estive e porque é que demorei tanto tempo a fazer as compras no supermercado! Nem sequer lhe vou dizer que estive contigo, porque senão, é motivo para também te começar a detestar! Não posso ter amigas quanto mais amigos. Um inferno, ainda para mais, a minha sogra dá palpites para tudo. Não descola, telefona para o Paulo todos os dias e a toda a hora, dá opinião sobre tudo e chega mesmo a tocar à porta, para perguntar se queremos lá jantar. O Paulo não tem coragem de dizer que não à mãezinha e depois é só descer ao rés-do-chão, é tão prático! Na verdade, habituei-me a não ter que fazer o jantar, olha, poupo umas coroas e nem tenho que me chatear. A minha sogra faz os pratos que ele gosta, nem sequer me pergunta se gosto. Ás vezes, tenho vontade de inventar uma gripe e não descer...

(continua)

De Campos

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