quarta-feira, fevereiro 14, 2007

A páginas tantas


Uma página aberta de um livro

“Como todos os grandes homens (e não pode excluir-se que José Matildes era um grande homem) era inspirado por esse espírito de vingança, traduzido na perseguição da própria vontade. Talvez que jamais, na história da sociedade portuguesa, houvesse tal aparição do indivíduo como vontade. Pressionado pelo espírito de vingança, o ressentimento da vontade manifestava-se em relação ao seu efémero; não dominar a eternidade, não ser capaz de independência face ao tempo, isso produzia o ressentimento. A vontade sofria, portanto, dessa fatalidade do efémero. O acontecimento do 25 de Abril, abrindo espaços ao temporal, àquilo que passa, deu a José um agudo e febril acesso de ressentimento; pretendendo ser um guardião da terra, estava impedido pela meditação que lhe impunha o efémero, a brevidade, a quase inoperância do ser que passa. O espírito de vingança ascendia ao mais alto cargo da vontade; mas a esperança era desmobilizada do coração humano. Só a vontade absurda prevalecia.”

Agustina Bessa-Luís, Os Meninos de Ouro, Guimarães Editores, 1983 (9ª ed.) p. 160.

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