quarta-feira, dezembro 19, 2007

A Hipocrisia das Palavras


«No princípio, quando Deus criou os céus e a terra,
a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas.
Deus disse: «Faça-se a luz.» E a luz foi feita.
Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas.
Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite.
Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia.»
(Criação do Mundo - Livro Génesis, Capitulo I)

Depois de criar cada coisa, Deus deu-lhe um nome.
A criação ficou ligada à palavra.
O que não tem nome não existe para nós.
Sabemos que cada dança tem o seu nome, assim como cada passo.
E se alguém inventa um passo novo, logo trata de lhe fazer o baptismo.
Não aceitamos o vazio e damos nome até a fenómenos naturais como vulcões, furacões, tornados, etc.



Lembra-me o tempo em que não se falava do “politicamente correcto”.
Sempre existiu hipocrisia, mas acho que, mais do que hoje, as coisas eram chamadas pelos seus nomes.
Um cego era um cego e não um invisual.
Um surdo era surdo ou até mouco e não deficiente auditivo.
Um coxo era coxo e não uma pessoa com mobilidade diminuída.
Um preto era um preto e não um afro-americano.
Um discurso começava por “minhas senhoras e meus senhores” e não por “Cidadãs e cidadãos”.
Um drogado era um drogado e não um toxicodependente.
Sei que existe o preconceito e sempre existirá.
Mas o preconceito não está nas palavras.
O preconceito está nos lábios de onde elas saem, na mão que as escreve ou até nos olhos de quem as lê.
Actualmente mudam-se as palavras para encobrir o preconceito.
O preconceito passou a ser servido em palavras higienizadas.
Lembro-me de um dia ter perguntado a um amigo “coxo” se entrava numa corrida de miúdos, pela simples razão de sempre o ter visto como uma pessoa normal.
Brinquei com amigos “de cor”, sem nunca ver diferenças.
Nunca percebi o racismo, mas já me senti discriminado por ser branco. Estamos pouco habituados a isso…
Sei que, com as mudanças se transformaram em vexatórias e inconvenientes palavras que não o eram, obrigando-nos a todos a aderir às novas modas.
Mas a hipocrisia e a discriminação continuam por aí, por vezes encobertas em belas palavras.
Aproxima-se o Natal e novamente as belas palavras.
Gostaria que trouxesse apenas novas ideias.

Fernando Vilas Boas

1 Comments:

At 04 janeiro, 2008 15:54, Anonymous Anónimo said...

Achei bonito, Fernando. Concordo que as mudanças partem de lugares bem profundos, não do superficial nem do imediato. Esperemos que elas se vão operando... é o que a Humanidade precisa.

Sara Félix

 

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