quarta-feira, novembro 07, 2007

O reconhecimento

Num simples jantar podem passar muitas coisas.

No jantar do dia 31, um dos convivas trouxe duas ideias inovadoras:

A primeira é que a nossa vitela era porco…

A segunda tinha lido no Expresso e abrangia dez por cento da população portuguesa.

Quando fez essa afirmação apareceu o Filipe, sentou-se e ficamos dez na mesa!

Certamente uma coincidência ……!

O Filipe é um conversador.

(Se não fosse meu professor, diria que só não é um rádio porque não dá para desligar).


Uma das ideias que lhe saíram, foi que mesmo os alunos com dificuldade se sentem bons dançarinos se forem a uma aula de nível mais baixo.

Lembra-me um artigo da revista «Atlântico» de Junho passado, que começa assim:

“Segundo Hegel, os homens e os animais desejam comida, bebida, abrigo e, acima de tudo, preservação do próprio corpo. O Homem distingue-se porque deseja ser “reconhecido” pelos seus”.

Ora, a ser assim, os nossos méritos acabam por ser relativos.

Na verdade, o “reconhecimento” implica uma relação com os outros.

Por isso, para sermos “reconhecidos” necessitamos de ser vistos como bons.

Somos bons dançarinos junto de quem sabe menos que nós e somos maus junto de quem vai à nossa frente.

Imagino alguém que vive de um salário mínimo, numa casa arrendada, sem perspectivas de melhorar.

Essa pessoa considera-se miserável ou privilegiada em função da comparação que faz com os outros.

Comparada com alguém que vivia há cem ou duzentos anos, está bem acima da média: uma casa com casa de banho, água quente, apenas oito horas de trabalho por dia e férias, fins-de-semana, etc.

O sucesso de cada um depende do vizinho do lado.

E lá voltamos à questão do “reconhecimento”

Sendo ele relativo, há que usá-lo a nosso favor.

Assim, se pensarmos que somos melhores que alguém, convém lembrar que outros são melhores que nós.

Mas quando nos sentimos em baixo devemos ter presente que outros estão pior.

Os problemas têm a dimensão que lhes dermos (será que a Sónia já concorda com isso?).

A nossa força vem da consciência das nossas qualidades e dos nossos limites.



Fernando Vilas Boas

3 Comments:

At 07 novembro, 2007 17:00, Anonymous Anónimo said...

Olá Fernando:

Gostei muito de este post. Se bem que sou mais "Kantiano" do que "Hegeliano" jejejeje :)

"O grande legado do pensamento kantiano para a filosofia dos direitos humanos, contudo, é a igualdade na atribuição da dignidade. Na medida em que a liberdade no exercício da razão prática é o único requisito para que um ente se revista de dignidade, e que todos os seres humanos gozam dessa autonomia, tem-se que a condição humana é o suporte fático necessário e suficiente à dignidade, independentemente de qualquer tipo de reconhecimento social"

O "reconhecimento" bem pode ser substituido pela virtude da humildade e o sonho da Igualdade...

Abraço

 
At 09 novembro, 2007 19:08, Anonymous Anónimo said...

Caro comentador:
Aceito que a dignidade é inerente à condição humana.
O problema está em conseguir ser totalmente livre no exercício da razão prática.
E aí é que a minha liberdade é medida pela liberdade que reconheço nos outros e eles reconhecem em mim.
Se bem que cada pessoa vale por si própria, a verdade é que a humildade e o sonho da igualdade não substituem o "reconhecimento", pois também somos humildes ou não conforme a comparação com a humildade dos outros e aquela que eles reconhecem em nós.
Quanto ao sonho da igualdade, não substitui a igualdade verdadeira, e mesmo a verdadeira pode não passar das sombras do mito da caverna.
Por isso é que o nosso sentimento da própria dignidade é influênciado pela dignidade que vemos que os outros nos reconhecem.
Ou seja, o nível de dignidade que nos reconhecemos é determinado ou pelo menos influênciado pelo reconhecimento social.

Gosto de coisas profundas, mas o problema é que sofro de vertigens...

Um abraço

Fernando Vilas Boas

 
At 18 novembro, 2007 04:07, Anonymous Anónimo said...

Um ano depois... 36o dias! A MUDANÇA! A INOVAÇÃO! O ESPÍRITO DA ESCOLA!A EVOLUÇÃO!... Se não é é batatinha palha é vaca que ronca!!!tudo na mesma... ou quase tudo! porque o vosso poder crítico está apuradissimo... lá está! têm que seguir o conselho do professor! Descer de patamar! Não é por nada... mas de outro jeito... é que um professor não tem de saber tudo, não é verdade?
Boas danças para os resistentes!

Beijinhos!

Isabel

 

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