quinta-feira, outubro 05, 2006

O Tango antes de 1914

É geralmente aceite que o Tango tem as suas origens entre as classes mais baixas dos bairros de Buenos Aires, particularmente no mal amado “Barrio de las Ranas”, o quarteirão mais pobre da cidade, onde logo foi apelidado de baile com corté – a dança com paragem. As raparigas vestiam saias bem cheias e os homens o traje gaúcho, com botas de cano alto e esporas. A tentativa de dançar com semelhante aparato resultou em diversos movimentos que depois se associaram ao Tango. Alguns cavalheiros das cidades observaram esta dança e introduziram-na nos seus cafés favoritos, também de integridade duvidosa, fazendo duas mudanças. Para produzir um efeito mais sonhador substituíram o ritmo habanera e para mostrar que a sua dança não era mais o comum baile com corté chamaram-lhe Tango. Durante muitos anos não foi dançado por quem queria preservar o seu bom-nome.

Foi provavelmente no final do século dezanove que se ouviu falar de Tango na Europa e depois de 1900 foram feitas algumas tentativas para o mostrar em Paris por amadores vindos da Argentina. A nova dança depressa progrediu em Paris e durante algum tempo estabeleceu-se num café conhecido por La Feria, que era na rue Fontaine na colina de Montmartre. As incursões do Tango em Paris foram tais que em 1909, quando o jornal Excelsior promoveu um grande campeonato de danças, o Tango foi incluído, sendo o evento ganho pelo Monsieur Camille de Rhynal, dançarino, escritor e compositor e que tinha como par Mado Minty.

O Tango antes de 1914 era muito diferente do Tango que conhecemos hoje. Não só era dançado ao ritmo habanera, como também era uma dança de passos e figuras sem fim. Não havia dois professores a ensinar exactamente da mesma forma e não foi feita nenhuma tentativa para estandardizar a dança. Por vezes as figuras eram chamadas pelos seus nomes espanhóis, por vezes pelos nomes franceses e tal servia para aumentar ainda mais confusão. Quando Maurice e Florence Walton dançaram a pedido expresso da Rainha Mary num baile em Hampstead no verão de 1914 as figuras utilizadas foram El Paseo (Slow Walk), La Marcha (Quicker Walk), El Corte, Paseo con Golpe, La Media Luna, Las Tijeras (as Tesouras), La Rueda e El Ocho (Huit), e estas representavam as figuras mais conhecidas na altura.



Victor Silvester, Modern Ballroom Dancing (Ebury Press 2005, pp. 18-21)

Traduzido e adaptado por

De Campos

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