sexta-feira, fevereiro 16, 2007

O Baile

Uma comédia dançante

Acto I

Cena I

(continuação)

Conceição: Vou sempre pela auto-estrada, desde que temos auto-estrada. É muito melhor, não apanhas trânsito e andas à velocidade que queres. Agora já se pode ir quase até Trás-os-Montes. Num instante pões-te onde queres, sempre é mais cómodo. Pus aquele dispositivo electrónico no pára-brisas do meu carro e é sempre em frente sem parar. Não há filas e nem sequer me apercebo que a auto-estrada é a pagar.

Rosário: Se eu pudesse deixava o carro na garagem, se pudesse vendia-o mesmo! Só dá despesas e é um stress sempre que saio de casa, filas e mais filas. Se ao menos tivéssemos transportes públicos! Não, senhor. As companhias de transporte só estão interessadas no lucro, não investem, nem são de cá, todas internacionais e depois compram autocarros em segunda e terceira mão nos países de leste ou na Alemanha e os velhinhos que sofram. Sofrem antes, durante e depois. Para subir para o autocarro é o martírio total. Degraus descomunais, gastos pelo uso e um condutor que nem se preocupa em parar perto da paragem, a meio da estrada está perfeitamente bem! Sofrem os velhinhos que querem entrar no autocarro e sofrem os carros atrás que além da fila têm que levar com a combustão podre do gasóleo. Também me dá impressão que não deve ser muito cómodo lá dentro, pela forma como o autocarro está inclinado, com as suspensões a darem de si! Deve ser um martírio ter que mostrar o passe mensal sempre que entras para o autocarro e, isto, apesar do condutor te conhecer sobejamente. Não sei para que inventaram a figura dos fiscais, se cada vez que entras no transporte colectivo tens que mostrar o passe! Filas para entrar, filas para sair. Podiam abrir todas as portas do autocarro e as pessoas entravam logo que os passageiros dessa paragem saíssem, mas, na realidade, a maioria dos autocarros em Braga só têm uma porta que é a mesma de entrada e de saída!

Maria: Dizem que os autocarros em Lisboa são modernos e funcionais. Há várias linhas e podes sempre apanhar o metro. A cada ano constroem novos percursos. São milhões de Euro para fazer túneis numa cidade movediça, que está segura por estacas à beira-rio. São tão giros os autocarros, amarelos, com um mostrador electrónico e ajoelham-se quando queres entrar! As paragens têm indicadores do tempo que falta para o próximo. Lá não precisas mesmo do carro e também tens o eléctrico que foi já renovado por uma frota nova de eléctricos mais longos e inovadores. Mas apesar de todos os milhões que gastam na capital, muitos lisboetas preferem andar de carro, passear de carro, trabalhar de carro, tomar café de carro. Tudo se faz de carro!

(continua)


De Campos

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