quinta-feira, setembro 14, 2006

Como começam as danças

Uma dança, como qualquer outra coisa viva, tem que evoluir ou desaparecer, não pode permanecer imutável. No momento em que uma dança popular fica estandardizada, de tal modo que não pode mais evoluir, os seus dias estão contados. Irá para a prateleira fazer companhia ao Minuet, à Gavotte, à Polka e a outras outrora favoritas. Quais são então as características de uma nova dança antes de poder sonhar ser o êxito do momento?

A primeira é um ritmo facilmente reconhecível, que entre bem no ouvido e que seja absolutamente novo no baile de salão, pois uma nova dança nasce de um novo ritmo. Não conseguimos encontrar nenhum exemplo de um qualquer ritmo que tenha regressado para uma segunda vida. As danças mais antigas como o Minuet, a Gavotte e a Polka, mas também a Valsa, o Tango e o Foxtrot, eram tudo ritmos novos no salão de baile quando foram introduzidos. Eram também compostos em tempos conhecidos – 2/4, 3/4 ou 4/4 – e, assim, não se consegue descobrir nenhum ritmo num tempo menos frequente que tenha sido apelativo.

Uma outra característica de uma nova dança bem sucedida define-a como um ritmo ao qual os passos de nenhuma dança existente podem ser razoavelmente enquadrados sem um mudança súbita que altera a natureza dos passos por completo. Por exemplo, houve dificuldade em popularizar a Rumba até que as bandas começaram a tocá-la com o verdadeiro sentimento da América Latina e não como uma dança algo parecida com o Foxtrot.

Consideremos agora o ponto mais importante de todos: de onde vem o ritmo que compõe a nova dança? Em todos os casos estudados ele tem como origem certa as danças populares. O Minuet, a dança mais estatal de todas as danças palacianas, veio originalmente dos camponeses de Poitou, a Gavotte das gentes da Provença, ambas na França, a Valsa das canções populares do Sul da Alemanha e a Polka da Boémia. Quando as possibilidades da Europa tinham sido esgotadas, a população branca da América do Norte virou-se para os ritmos à sua porta, e dos Afro-Americanos veio o Foxtrot – um ritmo que tinha as suas origens em África. Desde então as danças da América Latina ganharam uma popularidade tremenda no baile de salão: o Tango dos gaúchos da Argentina, a Rumba, o Cha-Cha-Cha, o Samba. E, agora, da sua terra em Espanha, veio a avassaladora dança de exibição, o Paso Doble.

O modo como uma nova dança se espalha socialmente é também interessante; no seu país de origem, de ser uma dança popular das gentes, de um ritmo simples e fascinante para uma forma modificada, para algo mais sofisticado. Noutros países ocorre o contrário. A dança é recolhida na sua esfera por turistas ou viajantes e é depois levada para os países anfitriões onde é adaptada.


Victor Silvester, Modern Ballroom Dancing (Ebury Press 2005, pp. 13-14)

Traduzido e adaptado por

De Campos

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