Arte e Sofrimento
Caro Rui:
O artigo sobre a «Dança a doer» e o respectivo comentário, fizeram-me pensar sobre a relação entre a arte (dança incluída) e o sofrimento.
É da natureza humana não dar valor ao que não exige esforço.
Assim, actos simples como respirar, beber água ou caminhar são banais, até que, por qualquer razão, surge uma dificuldade.
Também a arte implica esforço. Mais transpiração do que inspiração.
Imagino Miguel Ângelo a pintar o tecto da Capela Sistina, durante quatro anos!
Quem já mudou a lâmpada de um candeeiro, com os braços voltados para o tecto, durante alguns segundos conhece o incómodo.
Ocupar quatro anos para criar uma obra de arte genial só é possível para um artista capaz de sacrificar tudo pela sua arte.
Imagino Beethoven, ao fim de um dia a tentar compor algo, mas sem conseguir.
Irritado, bate violenta e repetidamente com os dedos na extremidade do teclado do seu piano.
Nasce assim o célebre tcham, tcham, tcham, tcham.
Imagino o mesmo Beethoven, no fim da sua vida, completamente surdo.
Incapaz de ouvir a música que criava, mas ainda assim incapaz de resistir ao seu impulso criador.
Desesperado, serra as pernas do seu piano e encosta a cabeça no chão, de modo a tentar sentir as vibrações da sua música.
Dessa forma criou a Moonlight Sonata
http://www.youtube.com/watch?v=vQVeaIHWWck
Está lá o desespero, a amargura, a arte, tudo.
A obra que fica enquanto o artista se apaga.
Cumprimentos e até sexta.
Fernando Vilas Boas
1 Comments:
Obrigado Fernando por um artigo tão esclarecedor! De facto, a arte implica sofrimento e entrega até à exaustão senão arrisca-se a ser tudo menos uma obra prima!
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