sexta-feira, junho 16, 2006

ABC dos Cromos – Perfil XIII

Madame X

Uma diva das danças de salão. Aparece majestosamente transformada em ocasiões muito próprias, como a gloriosa noite de sexta carnavalesca. A sua paixão desmedida é pelo tango. Habitualmente veste de escarlate, o seu tom preferido. Tímida q.b. logo que pisa o palco do salão, liberta vapores de emoção e entra num estado tal de euforia e êxtase que dificilmente os cavalheiros conseguem conduzi-la. Há quem confesse tê-la visto apaixonadamente atraída por damas e cavalheiros simultaneamente! Ela é um furor, um vendaval dançante, mas plena de graciosidade, disposta a dançar com qualquer coisa que se mexa!

Madame X, como é que o mundo das danças entrou na tua vida?

Eu já nasci com as danças no meu corpinho, mas quando ia para as discotecas, nunca me sentia integrada na batida mais techno e dançava sempre ao meu próprio ritmo, que era muito maluco e desarticulado! Eu, no fundo, sempre vivi noutro século e o vir para as danças de salão fez-me reviver o passado de uma época que nunca vivi.

Então as danças de salão mudaram algo em ti?

Completamente! Continuo a ser a mesma pessoa, mas para ser bailarina, acabei por perder doze quilinhos de uma assentada, sem grandes sacrifícios, espaçadamente... Só tinha que dançar, comer um pouco menos e divertir-me. Passei também a frequentar o Anjo Verde, para uma comida mais saudável e hoje, já sou semi-vegetariana. Aprendi a comunicar mais com os sentidos! Na dança a comunicação verbal é a menos importante, o olhar, a expressão facial, os movimentos do corpo, comandam a tua relação com o par. O contacto físico é predominante, as mãos do cavalheiro guiam as da senhora, as pernas cruzam-se, todo o corpo transborda de emoção. É fácil perceber se um par está a bailar verdadeiramente a música pela sintonia corporal.

Olhando bem para ti podemos constatar as mudanças na silhueta...

Estou feliz porque em termos de saúde estou no caminho certo. Continuo, no entanto, a transpirar abundantemente. Pouco posso fazer porque não é só canseira física depois de rodopiar incessantemente mas é toda uma dedicação emocional. Faço um grande esforço em transbordar o que sinto cá para fora e o resultado é uma torrente de suor!

Que avaliação fazes do Baile de Sexta?

O BdS foi uma enorme surpresa! Fim-de-semana, descontracção total, as pessoas parecem conhecer-se há anos, tal é o entrosamento, o à vontade em dançar umas com as outras. É uma festa total, uma celebração perpétua! Para mim o paraíso deve ser algo semelhante ao salão do BdS, puro prazer em dançar! Se houvesse dúvidas não estaríamos sequer a publicar este artigo no blogue. O entusiasmo é tal, que o BdS já contaminou toda a escola de danças de salão em Braga, rendendo alunos e professores. Tenho a certeza que S. Adrião abençoa a festa pura e genuína que é o BdS.

Como é que seria se o BdS acabasse?

Tudo tem um fim. O importante é saber tirar partido do momento e, falando de agora, está a ser uma festa permanente! Primeiro teria que ser acompanhado por uma psicóloga, se tal acontecesse, mas não me resignaria, pois quem prova o néctar dos deuses fica inebriado e não quer que esse estado de felicidade acabe. É ópio puro. Por mim, faço o propósito de dançar até as minhas pernas não o permitirem mais fazer. Há exemplos desses bem vivos em Braga!

E danças mais queridas?

O tango é a minha passion. A música do tango evoca todo um ambiente sensual e libertino da Buenos Aires dos anos vinte. Importado para Paris tornou-se repentinamente um sucesso mundial e destronou outras danças rainhas como o Charlton e outras danças do Jazz da altura. No tango o cavalheiro tem uma condução mais determinada, com ímpetos de firmeza alucinante, acompanhando a senhora num rodopiar permanente. A cadência é bastante irregular, alternando entre rápidos e lentos de uma forma vertiginosa! Um outro ritmo que me deixa siderado é o Passo Doble. Para além de terrivelmente marcado em tempos obriga a uma atenção constante. Como eu gosto de ir dançando o Passo Doble e cantando uns olés simultaneamente, acontece muitas vezes que me perco na dança, o que me obriga a uma maior disciplina se quero dançar o Passo Doble em condições!

Apesar da formação germanística, foge-te o pé para as latinas?

É bem verdade. Aprecio desmesuradamente a Valsa Inglesa e Vienense, a arte singela com que os passos harmoniosos são executados. Vibro com as valsas do Strauss ou com o ritmo mais ligeiro das baladas anglo-saxónicas, no entanto, não posso renunciar às minhas origens mediterrânicas e ao calor dos trópicos. Quando danço, por exemplo, a salsa, o meu corpo reage como uma panela de pressão, liberto toda a emoção em gotas que escorrem pelo corpo e salpicam meio salão!

A ideia de criar um blogue foi bem recebida pelos elementos do BdS?

Há duas razões que levaram o meu caro amigo editor de Campos a criar este espaço virtual. Por um lado, o ter constatado a ausência de uma cibercultura em Braga dedicada às danças de salão; por outro, a necessidade que a turma de sexta sentia em trocar impressões, partilhar vivências para além das aulas. A ideia surgiu e foi muito o fruto de um convívio que começou a ser mais frequente ao fim-de-semana entre alguns elementos do baile de sexta. As idas ao Populum, os jantares no Anjo Verde, os jantares dançantes, as festas de aniversário. Havia a urgência de falar sobre tudo isto e de transpor as ideias para o espaço dos cibernautas. A reacção e os comentários ao blogue têm sido, segundo me diz o editor, uma agradável surpresa, com mais de uma centena de visitas por semana, o que para um universo tão pequeno é uma pequena vitória!

Madame X, para terminar, tens alguma sugestão a dar?

Muitíssimas! Para começar, a organização de um campeonato inter turmas, para estimular ainda mais o gosto pelas danças e, fundamentalmente, para criar nos alunos o sentido de competição saudável, de prazer em fazer sempre melhor. Devia existir um manual com o historial de cada dança e os passos fundamentais e respectivos nomes de cada passo para não se esquecer tão facilmente. Finalmente, se são os alunos das danças de salão que alimentam o Populum, a entrada nesse recinto devia ser livre, apenas pagando o que se consumisse.

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