quarta-feira, agosto 29, 2007

Férias IV

A casa onde me encontro de férias tem uma cave adaptada para habitação e, numa extensão de cerca de duzentos metros, os telemóveis quase não funcionam.

A cave é ocupada por uma família da qual fazem parte alguns adolescentes.

Obviamente, os meus vizinhos subterrâneos enfrentam o problema de não ter rede nos telemóveis.

Por isso, vejo alguns adolescentes deitados no jardim.

Passam nisto horas. Todas as noites. Enrolados em cobertores, agarrados aos telemóveis.

Não sei o que dizem, nem consigo perceber como podem ter tanto para dizer.

Vejo-os a falar constantemente ou naquela dança frenética de dedos.

Uns para cada lado. Quase não conversam entre si.

Também nas férias se vêem os contra-sensos da vida.

Uma família que só tem dinheiro para arrendar uma cave, mas que ao mesmo tempo pode sustentar uma “frota” de telemóveis.

Além do lado económico, não entendo o lado humano.

Como é que adolescentes podem viver dependentes de telemóveis?

Acima de tudo, como é que não conseguem fazer um intervalo nas férias.

Sei que é difícil fugir as nossas obrigações.

Mas que obrigações podem ter eles?!

Afinal, como escreveu Pedro Lomba (revista «Atlântico»), “As férias são um período de liberdade condicional só ao alcance de quem cumpre pena”.

Se calhar há pessoas que não deviam ter férias…

Acima de tudo, há pessoas que não sabem gozar das férias.

Como escreveu João Marques de Almeida, também na revista «Atlântico»: “Para o Verão, evitar a ira, abusar da preguiça e da gula. Quanto à luxúria, fica ao critério de cada um”.


Fernando Vilas Boas

quarta-feira, agosto 22, 2007

Férias III

Li um texto sobre um templo budista que é demolido a cada vinte anos, mas logo substituído por um novo, construído ao lado do antigo.

É uma forma de manter os monges ocupados e, acima de tudo, de mostrar que não somos eternos.

Lembra-me os sistemas operativos dos computadores, que vão acumulando ficheiros inúteis e dispersando a informação, de modo que se tornam mais lentos e mais sujeitos a falhas.

A solução mais eficaz passa por reinstalar o sistema periodicamente.

Será que não podemos aproveitar as férias para fazer o mesmo ?

As férias são a época ideal para demolir o templo antigo e edificar um novo, ou para reinstalar o sistema.

Novas paredes desenhadas para as necessidades actuais.

Um sistema configurado para os trabalhos actuais.

Ao trabalho…


Fernando Vilas Boas

quarta-feira, agosto 15, 2007

Férias II

Férias normalmente significam praia, mar, nadar.

Quem já praticou natação sabe que a eficácia do nadador depende de manter o corpo alinhado, de forma a deslizar com o mínimo de atrito possível.

Porém, periodicamente, é necessário levantar a cabeça, não só para respirar, mas também para ver onde se encontra.

Também na nossa vida acontece algo semelhante.

Na verdade, passamos o ano a tentar manter uma braçada forte e ritmada, procurando andar rápido e bem.

Com as férias chega a hora de levantar a cabeça.

É tempo de balanço.

De ver onde estamos e para onde queremos ir.

Temos de parar para pensar.

Corrigir o que for de corrigir, manter o que for de manter.

Mas também, se for o caso, definir novos rumos.


Fernando Vilas Boas

quinta-feira, agosto 02, 2007

Férias

Chegaram as férias e, como é natural, altera-se o ritmo e muda a dança.

As danças de sexta-feira recomeçam em Setembro.

Habitualmente fazemos planos durante o ano para o que vamos fazer nas férias.

Há mesmo quem faça planos para o que vai fazer nas férias prolongadas da reforma.

Quantas vezes esses planos são meras ilusões!

Tudo na vida procura o equilíbrio.

O excesso de trabalho exige a compensação com o descanso.

Mas essa compensação por vezes falha.

O ritmo do trabalho, das deslocações de casa para o trabalho, do trabalho para casa, deixa marcas.

http://www.youtube.com/watch?v=VTgeNw1guBs

As exigências da profissão, da família, dos amigos, também.

Quantas pessoas levam uma vida adormecida, embalada pela rotina.

A rotina anestesia os sonhos e para suportar o dia a dia só resta transformá-los em ilusões, em planos para as férias, projectos para a reforma, para a velhice, etc.

Mas a vida não pode ser adiada.

Cada dança tem de ser dançada quando começa a música.

Com outra música já será outra dança.

Nada se repete ou volta atrás para uma segunda oportunidade.

Lembra-me uma pequena crónica de Paulo Coelho sobre um «Manuel» que fez planos para “… fazer o que lhe apetece – e, nesse momento, descobre que não lhe apetece fazer nada”.

Fernando Vilas Boas

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