quinta-feira, março 27, 2008

Les Ballets Trockadero

O nome do grupo engana. Os Trocks, apesar de se intitularem “de Monte Carlo”, são de Nova Iorque. Foi naquela cidade, nos sotãos do ambiente off-off-Broadway, que a companhia foi fundada, em 1974. O bailado de inspiração clássica torna-se hilariante nos exageros, nos tropeços, nas quedas... mas esse ar de desastre é exemplarmente executado, com o domínio irrepreensível da técnica e os elaborados passos de pontas. Claro que o visual angélico de tutus, nos torpes rostos masculinos, desmonta qualquer tentativa de seriedade... Ainda assim, por entre o riso, seduzem e comovem. Acima de tudo, é um exercício de transformação da realidade e de quebra de todas as convenções e hierarquias – mais familiares ao imaginário histórico do bailado clássico ou como habitualmente entendemos a realidade estratificada da sociedade onde vivemos. Cada intérprete desdobra-se em múltiplas personagens, faz um jogo de troca de géneros com recurso a alter egos de sexo opostos. Um jogo de metamorfoses e enganos, que constrói uma crítica ao mundo em que vivemos através de um olhar aparentemente leve e bem-disposto.


Em Actual 21 de Março de 2008 Expresso

1 e 2 de Abril, Theatro Circo, Braga





sexta-feira, março 21, 2008

Lições de vida

Faz uns anos, ouvi uma música de Baz Luhrmann.

Vale a pena ouvir e acompanhar a letra.




O texto foi publicado na coluna de Mary Schmich, no «The Chicago Tribune», em 01/07/1997.

A tradução é mais ou menos livre.

Cá vai:


«Senhoras e senhores da classe de 97:


Usem protector solar.


Se vos pudesse dar apenas uma dica para o futuro, essa dica seria: protector solar. Os benefícios a longo prazo do protector solar foram provados por cientistas, já o resto dos meus conselhos não têm maior base de confiança que a minha própria experiência. Vou dar esses conselhos agora.


Aprecia o poder e a beleza da tua juventude. Oh, esquece; Não vais perceber o poder e a beleza da tua juventude até que ela se desvaneça. Mas confia em mim, daqui a 20 anos vais olhar para fotos tuas e vais relembrar de uma maneira que não consegues compreender agora, as imensas oportunidades que se dispunham à tua frente e o quão fabuloso realmente parecias. Tu não és tão gordo(a) como pensas!


Não te preocupes com o futuro; Ou preocupa-te, mas lembra-te que a preocupação é tão eficaz como tentar resolver um exercício de álgebra a mastigar pastilha elástica. Os verdadeiros problemas da tua vida são, provavelmente, coisas que nunca passaram pela tua cabeça, problemas que te vão assaltar ás 4 da tarde de uma terça-feira monótona.


Faz todos os dias uma coisa que te assuste.


Canta.
Não sejas inconsequente com o coração das outras pessoas. Não atures pessoas que são inconsequentes com o teu.


Usa fio dental.

Não percas o teu tempo com invejas. Ás vezes estás á frente, outras vezes estás atrás. A corrida é longa e no final, é só contigo que corres.


Lembra-te dos elogios que recebeste. Esquece os insultos. Se conseguires fazer isto, explica-me como.


Guarda as antigas cartas de amor. Deita fora os antigos recibos bancários.


Espreguiça-te.
Não te sintas culpado se ainda não sabes o que queres fazer da vida. As pessoas mais interessantes que eu conheci não sabiam o que queriam fazer da vida aos 22. Algumas das pessoas de 40 anos mais interessantes que eu conheço ainda não sabem o que querem fazer.


Bebe muito cálcio. Sê bom para os teus joelhos. Vais sentir falta deles quando forem à vida.


Talvez cases, ou talvez não. Talvez tenhas filhos ou talvez não. Se calhar vais-te divorciar aos 40 ou se calhar vais fazer a dança da galinha doida no 75º aniversário do teu casamento. O que quer que faças, não te felicites demasiado nem te deites abaixo demasiado. As tuas escolhas são meia possibilidade. E assim são as de todos os outros.


Desfruta o teu corpo. Usa-o de todas as maneiras que possas. Não tenhas medo dele ou daquilo que as outras pessoas possam pensar dele. É o melhor instrumento que alguma vez terás.


Dança.

Mesmo que não tenhas nenhum outro sitio a não ser a tua sala de estar.

Lê as indicações, mesmo que depois não as sigas.

Não leias revistas de beleza. Elas só te vão fazer sentir feio.


Trata de conhecer os teus pais. Nunca saberás quando é que eles se vão embora de vez. Sê agradável para os teus irmãos. São a tua melhor ligação com passado e as pessoas que mais provavelmente ficarão contigo no futuro.


Compreende que os amigos vão e vêm, mas que uns quantos preciosos vale a pena guardar. Trabalha duro para construíres uma ponte sobre o fosso entre geografia e estilo de vida, porque quanto mais velho ficares, mais vais precisar das pessoas que te conheciam quando eras jovem.


Vive em New York uma vez, mas parte antes que te faça demasiado duro. Vive na Califórnia do Norte uma vez, mas parte antes que te faça demasiado brando.


Viaja!
Aceita algumas verdades absolutas: os preços vão subir. Políticos vão seduzir. Também tu vais ficar velho. E quando ficares velho, vais fantasiar que quando eras novo os preços eram razoáveis, os políticos eram nobres e que as crianças respeitavam os seus pais.


Respeita os teus pais.

Não esperes que alguém te sustente. Talvez tenhas um fundo de poupança. Talvez tenhas um companheiro rico. Mas nunca sabes quando qualquer um deles pode acabar.


Não mexas demasiado no teu cabelo ou quando tiveres 40 anos vais parecer ter 85.


Tem cuidado a quem pedes conselhos, mas sê paciente com aqueles que tos dão. Conselhos são uma forma de nostalgia. Dá-los é uma maneira de ir buscar o passado arrumado, limpá-lo, pintar de novo as partes feias e reciclá-lo, dando-lhe maior valor do que o que ele tem.


Mas acredita em mim em relação ao protector solar».


Fernando Vilas Boas

terça-feira, março 18, 2008

Connosco na música

Quem anda nestas danças há algum tempo, já deu para perceber que não há música que, por mais distante, não seja alvo de um assédio cerrado por pés e mãos. Passo a explicar: seja qual for o ritmo ou a batida, o nosso cérebro está já formatado para responder em mãos atrevidas e em pé de dança, graças aos gloriosos momentos passados no salão. Tem sido assim comigo sempre e muito mais nos últimos tempos, agora que tenho sido brindado por solicitações musicais diversas e todas elas bem interessantes do ponto de vista coreográfico. Situação um: com uma filha pequena a cargo sou bombardeado diariamente com sons da pequenada e é espantoso descobrir nos ritmos infantis simples da Ilha das Cores, por exemplo, um slow fox bem temperado. Não resisto a pegar na minha filha ao colo e caminhar dançando lentamente pela sala, em promenade, com uns zigues zagues pelo meio. Situação dois: num sábado chuvoso e com alguma folga de pai, fui até ao Theatro Circo celebrar o último dia do Braga Jazz de 2008. Em palco o Indigo Trio, com uma diva na flauta, com prémios e distinções recentemente acumuladas no mundo do Jazz. Nicole Mitchell juntou-se em trio ao baixo e à precursão. Um banho de música ao mais alto nível, com uma flauta travessa a desafiar a própria voz da instrumentista a uns acordes conjuntos. Na fusão de sons africanos, árabes, latinos e do jazz sulista, a surpresa de um sambinha mesmo a apetecer dançar, ainda que aprisionado na cadeira atenta do teatro. No final, uma conversa relaxante com os músicos no salão de entrada do belo teatro e a dedicatória eterna: Thanks for being with us in music!


quarta-feira, março 12, 2008

A evolução


Lembra-me de ter apreendido a separar o acontecimento, a conjuntura e a estrutura.
É interessante como a realidade é diferente consoante a perspectiva em que a olhamos.
Tenho notado uma evolução na escola, intencional ou fruto do momento. Suponho que é conjuntural.
Nota-se um encaminhar dos alunos para o «Populum».
É óptimo e imprescindível que exista uma base sólida e regular, onde os alunos podem divertir-se e pôr em prática o que apreendem, e onde se sintam em casa.
Mas essa regra exige a excepção.
Acho que isso está a falhar e, com essa falha, a «mística» da escola sai beliscada.
Lembro alguns momentos inesquecíveis:



Fernando Vilas Boas

quinta-feira, março 06, 2008

Temos um passado

O tempo passa depressa.

Parece que ainda mal começamos as danças de sexta e já damos por nós a pensar no passado.

Os colegas que vimos chegar, outros que vimos partir.

Os que permanecem e os que hão-de vir.

Lembram-se disto?









Sem saudosismos, podemos dizer que já temos um passado.


Fernando Vilas Boas

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