quarta-feira, maio 30, 2007

Arte e Sofrimento

Caro Rui:

O artigo sobre a «Dança a doer» e o respectivo comentário, fizeram-me pensar sobre a relação entre a arte (dança incluída) e o sofrimento.

É da natureza humana não dar valor ao que não exige esforço.

Assim, actos simples como respirar, beber água ou caminhar são banais, até que, por qualquer razão, surge uma dificuldade.

Também a arte implica esforço. Mais transpiração do que inspiração.

Imagino Miguel Ângelo a pintar o tecto da Capela Sistina, durante quatro anos!

Quem já mudou a lâmpada de um candeeiro, com os braços voltados para o tecto, durante alguns segundos conhece o incómodo.

Ocupar quatro anos para criar uma obra de arte genial só é possível para um artista capaz de sacrificar tudo pela sua arte.

Imagino Beethoven, ao fim de um dia a tentar compor algo, mas sem conseguir.

Irritado, bate violenta e repetidamente com os dedos na extremidade do teclado do seu piano.

Nasce assim o célebre tcham, tcham, tcham, tcham.

Imagino o mesmo Beethoven, no fim da sua vida, completamente surdo.

Incapaz de ouvir a música que criava, mas ainda assim incapaz de resistir ao seu impulso criador.

Desesperado, serra as pernas do seu piano e encosta a cabeça no chão, de modo a tentar sentir as vibrações da sua música.

Dessa forma criou a Moonlight Sonata

http://www.youtube.com/watch?v=vQVeaIHWWck

Está lá o desespero, a amargura, a arte, tudo.

A obra que fica enquanto o artista se apaga.

Como cantava Freddie Mercury: Pain is so close to pleasure

Cumprimentos e até sexta.

Fernando Vilas Boas

segunda-feira, maio 28, 2007

O baile do ano

Por esta altura já é tradição os alunos de danças de salão reunirem baterias e juntarem-se num mega jantar de gala com direito a vestidos de noite longos e a fatos com gravata. Serão muitos os alunos a participar, para muitos o primeiro jantar de gala, para outros o simples pretexto para estar com os amigos e conversar um pouco mais. O entusiasmo é grande e o facto de podermos testar as nossas competências dançantes em frente de uma plateia maior torna o evento muito mais apetecível.


Neste espaço foram em tempos debatidos jantares passados, discutida a ementa e exibida a galeria de personalidades. Muita tinta correu sobre esta ou aquela forma de organizar o baile e fervilharam ideias para bailes futuros. Face à enorme multidão que se espera, seria aprazível encontrar um espaço suficientemente grande que permitisse não só respirar mas essencialmente dançar. Não é fácil mas que existem, existem. É só pensar, por exemplo, nos pavilhões desportivos das escolas que estão virados para a comunidade e frequentemente são alugados para eventos. Num mega salão dessa natureza era fácil albergar bem mais dançarinos e permitir que se dançasse em soalho de madeira. O pretexto seria bailar e só bailar, ficando o jantar para segundo plano. Com tanto espaço reservava-se um canto para um buffet assistido e para uma eventual orquestra, o recinto seria destinado quase na totalidade para o baile. Claro que ideias desta natureza implicam uma organização maior e um trabalho de bastidores bem mais exigente! Para sexta-feira desejo a todos um jantar e um baile deslumbrantes!


De Campos

quinta-feira, maio 24, 2007

Na pista com…

Nita & Bruno

Vê-los dançar é um regalo para os olhos! Passo a passo, o ritmo invade-lhes o corpo, e a dança resulta sensual, elegante e prazenteira. O BDS foi espreitar um dos treinos destes nossos campeões, e comprovou que é com muito suor e dedicação que se chega à perfeição na hora do espectáculo, e às muitas vitórias que têm conseguido. O par de dançarinos, sempre muito divertidos e ainda mais simpáticos, cedeu alguns minutos do seu atarefado tempo, para conversar connosco.

BDS – Nita e Bruno já andam nestas (an)danças há algum tempo… como é que tudo começou?

Nita – Eu jogava futebol desde pequena (7/8 anos) por isso danças não era comigo. Vim para aqui “obrigada”. Tudo começou quando acompanhei a minha mãe a uma aula. No Bolero fiquei sentada, a assistir. Mas depois o Chachacha seduziu-me e comecei a dançar. Dois meses depois, convidaram-me a experimentar a turma de competição do Populum, e passado um ano surgiu a possibilidade de ser par do Bruno. Ele já dançava há algum tempo com outro par que desistiu mesmo em cima de uma exibição agendada, e pela proximidade de idade e de altura fui a escolhida, embora estivesse receosa de não corresponder às expectativas do Bruno.

Bruno – Bem, eu entrei também com a minha mãe para o social, onde estive quase um ano. Convidaram-me para competição e eu aceitei porque gostava de dançar, e fui experimentar. Com o primeiro par não resultou pois não havia muita consistência nos treinos. A Nita não tinha par e como tinha uma exibição para fazer, começámos.

BDS – Em termos de competição existem imensos escalões, e sei que vocês foram subindo, subindo, e em pouco tempo chegaram ao topo, certo?

[Nota: Todos os anos os 3 pares melhores classificados passam para o nível seguinte]

N – Sim. Em 2004, entrámos logo para o escalão de Adultos Iniciados em Latinas e ficámos em 1º lugar no Ranking Nacional e na Taça de Portugal.

No segundo ano competimos em Adultos Intermédios em Latinas, onde fomos Campeões Nacionais e vencedores no Ranking e também na Taça, e começámos a competir nas Clássicas, em Adultos Iniciados – fomos Campeões Nacionais e do Ranking e Vice-campeões na Taça.

Em 2006 avançámos, por isso, mais um escalão e competimos em Adultos Open em Latinas (Vice-campeões) e em Adultos Intermédios nas Clássicas (Vice-campeões).

Este ano estamos a competir no último escalão, Adultos Internacionais, em Latinas.


BDS – Têm apostado mais nas Danças Latinas. São campeonatos diferentes?

N – Sim, são provas diferentes. Sempre conciliámos as duas, mas neste momento a exigência do escalão de Adultos Internacionais, aliado a uma necessidade de mudança do nosso estilo de dança, obrigou-nos a focar o nosso esforço nas Latinas.

BDS – E os treinos correm sempre bem? Há sempre vontade de dançar?

N – Pois…[risos]…nem sempre. Quer eu, quer o Bruno, temos outras ocupações além da dança. No meu caso, tenho os dias preenchidos com a Universidade; às 18h00 todos os dias venho treinar e no fim ainda vou dar aulas. Além disso tenho de arranjar tempo para mim, para o namorado, para a família…Às vezes sinto-me cansada e é mais difícil concentrar-me nos treinos. Nesses dias até nem me importo que um de nós não possa vir…[risos]

B – Haver vontade, há. Mas há dias em que custa mais, em que nos apetecia estar em casa, descansar. Depois de um dia de trabalho vir treinar retira-nos muito tempo para o que gostamos de fazer, para nós próprios e para as pessoas que estão connosco, família e amigos.

BDS – Nita, tu apresentas sempre vestidos muito elegantes e bonitos. São comprados ou feitos por medida?

N – São feitos por medida, por uma costureira. Mas, sou eu que os desenho, escolho os materiais, as cores e faço toda a decoração (aplicação de brilhantes, etc.), só não os confecciono. Mais uma coisa que me ‘rouba’ o meu tempo! [risos]

É que os vestidos são caríssimos! Um vestido de competição de latinas, usado, minimamente apresentável, pode custar entre 500 e 1000 euros. E os de clássicas custam o triplo. As mulheres gastam sempre mais dinheiro com a roupa, sai muito caro.

B – [risos] Nem sei como… os vestidos gastam menos tecido! [risos] Mas atenção, que a roupa dos homens também é cara, especialmente se for de marcas conhecidas. Os preços variam, mas os fatos de latinas mais baratos custam pelo menos 300 euros. Há marcas que patrocinam alguns dançarinos mais famosos, e que depois do campeonato vendem as peças um bocado inflacionadas.

BDS – Como passam um dia normal de Competição?

B – Vamos com transporte próprio para o local da competição. Vamos sempre mais cedo, para já almoçarmos na cidade onde se realiza a prova, que normalmente começa às 15h, com as Danças Clássicas. O nosso escalão geralmente dança antes da hora do jantar. Como a maioria das provas são realizadas no Sul, chegamos sempre muito tarde a Braga (4/ 5 horas da manhã).

N – No dia anterior temos de nos preparar: colocar auto-bronzeador, tratar da depilação, pintar as unhas e preparar a mala. Levo sempre dois vestidos e dois pares de sapatos.

B – Também preparo tudo no dia anterior: maquilhagem, sapatos e roupa (costumo levar dois pares de calças e dois ou três bodies).

BDS – E o que sentem nos instantes antes de começarem a dançar? Nervos?

N – Nos dois primeiros anos sentia-me muito pressionada, porque era a melhor e tinha um 1º lugar a defender. Depois fui mudando. Este ano, estando no meio dos melhores, sentimos na mesma responsabilidade, mas preocupamo-nos mais com melhorar do que com competir. Há pares que dançam há mais tempo neste escalão do que nós em todo o tempo de dança que temos. O que me dá mais gozo é que no fim as pessoas nos dizem que estamos cada vez melhores, e isso é mais importante do que ganhar.

B – Antes de entrar para a pista há sempre aquele nervoso miudinho que nos corre, mas depois de começar a música já não sentimos nada, até acontece não nos lembrarmos das músicas que tocaram no fim!! Como disse a Nita, no início foi mais difícil, e é claro que o primeiro campeonato fica sempre marcado, pois estamos sempre na expectativa de como vai correr. Correu bem, ganhamos![risos] Neste momento, não há os nervos de querer manter um lugar, mas sim melhorar a dança cada vez mais, pois estamos no meio dos "lobos".


BDS – O que de mais positivo vos tem trazido o mundo da competição?

N – A gratificação dos lugares, o reconhecimento das pessoas. Sentir-me especial porque gostam de me ver dançar, porque me acompanham e depositam em mim muita confiança. Gosto do orgulho que têm em mim.

B – Há, claro, a satisfação de ganhar, mas também o facto de conhecermos pessoas de todo o lado e criar novas amizades fora da pista.

BDS – Até onde querem chegar?

B – Blackpool é o topo, e gostávamos de dançar lá. É um espaço único, onde participam os melhores. Estar lá já seria excelente!

N – Sim. Este ano não é possível por causa dos meus estudos, e também porque a preparação ainda não é suficiente, mas gostaríamos imenso de pisar aquela pista. E um dia mais tarde gostava de me tornar profissional.

Repórter S

segunda-feira, maio 21, 2007

Buraka Som Sistema

Quem não tem saudades dos primeiros níveis e de como acabávamos sempre a aula de dança! Já derreados e cansados q.b. ainda tínhamos que dançar a coreografia de kuduro no final. Mas a batida levava a melhor e quem não entrava em transe não estava a dançar kuduro. Era uma força brutal que trespassava o corpo e te punha em movimento e te fazia suar em excesso sincronizado. Actualmente já não dançamos com tanta frequência o kuduro mas sinto saudades do transe colectivo e daquela batida dura a fazer arrastar os pés e a mover as ancas.

Os Buraka Som Sistema estão aí a fazer sucesso pela Europa fora e a pôr toda a gente a dançar ao ritmo de Luanda mas a partir da Buraca na Amadora. Na separata Ípsilon do Público vem uma extensa reportagem sobre esta banda: “É agora: a assistência é incitada a colocar-se de cócoras a partir do palco e por incrível que pareça todos o fazem, a música vai subir, vai subir, é agora, é agora, tensão, o ritmo sobe, vertiginoso, mais ainda, mãos no ar, gritos, ‘não vacila, não vacila’ atira-se do palco, e os corpos são impelidos para cima, pulam e gritam, gritam e pulam, como se não houvesse amanhã. Local: Londres. Tema: ‘Sem macas’. Autores: Buraka Som Sistema. Nacionalidade: portuguesa. Não pode ser fado, não é? Não é Mariza, Madredeus, Mízia e todas as outras demonstrações de uma ideia romantizada de Portugal. Isto é outra coisa. Orgânica. Viva. Rude. Hedonista. Em construção. Este foi o momento, há uma semana, em que os Buraka Som Sistema ‘partiram a casinha toda’, como exclamava alguém no clube mais celebrado e influente da capital pop europeia, o Fabric.” (in: Público, Ípsilon, 11 de Maio de 2007)

Aqui fica Yah! dos Buraka para abanarem os kuduros aí em casa!

http://www.youtube.com/watch?v=-TWXXyaCQJM

De Campos

quinta-feira, maio 17, 2007

‘Pure Dancing’

”The night we met, I knew I needed you so,

And if I had the chance I'd never let you go (…)

So won’t you please, Be my be my baby, Be my little baby”…

É ao som destes versos que começa um dos filmes que mais marcou a minha infância. A minha e, de certeza, a de todos vocês que nasceram nos ‘70.

Falo-vos de ‘Dirty Dancing! O musical que apaixonou e inspirou a nossa geração.

Naquela altura, ‘Dirty Dancing’ era o filme mais sensacional de todos. Era “O” filme!

Ainda hoje, duas décadas depois (meus Deus!), não consigo cansar-me de o ver e rever… traz-me sempre um bom feeling; recorda-me tempos em que fui genuinamente feliz!

Tudo se passa em 1963. Baby (Jennifer Grey), uma adolescente muito peculiar e idealista, vai passar as férias de Verão com a família, numa estância. Numa das noites sempre animadas do hotel, conhece o professor de dança Johnny Castle (Patrick Swayze) e a ligação entre os dois é imediata. Quando Baby se oferece para substituir o par de Johnny numa exibição, por entre os treinos e o convívio diário há uma aproximação cada vez maior e os dois acabam por se apaixonar. Assumem o seu amor mesmo contra a vontade da família dela, que não vê em Johnny o melhor partido. Estas férias, com muita dança à mistura, acabam por representar para Baby a sua passagem para a vida adulta.

Para além de nos encantarmos e torcemos pelo par romântico, também devorámos todas as cenas em que dançavam, em que treinavam os passos e ensaiavam as coreografias (quem não se lembra dos lifts no rio?..).

Víamos o filme vezes sem conta, e ainda assim ficávamos a torcer para que a ‘Televisão’ o repetisse. Até tínhamos deixas decoradas… As raparigas imitavam a Baby e o seu jeito de dançar; alguns rapazes (sem receio de quaisquer comentários) assumiam-se como dançarinos e aceitavam o desafio. Lembro-me de passar horas, quer no recreio da escola quer com os primos em casa, a cantarolar as músicas e a tentar repetir algumas cenas do filme. Que delícia!

O filme apresentou-nos passos de dança diferentes, inovadores e até provocantes (sem ultrapassar os limites), coreografias que nos abriam o apetite para a dança, tudo isto acompanhado de uma espantosa banda sonora onde estão entre outros os míticos ‘She’s like the wind’, ‘Be my baby’, ‘Hungry Eyes’ e claro, a mais trauteada de todas, a música que enche o grande final e faz o par brilhar ainda mais:

Now I've had the time of my life
No I never felt like this before
Yes I swear it's the truth
And I owe it all to you
'Cause I've had the time of my life
And I owe it all to you…”

http://www.youtube.com/watch?v=RjFyer9Sgj4

Sambita

segunda-feira, maio 14, 2007

Quem manda?

Caro Rui:

Na última aula foi suscitada, de novo, uma velha questão.

Pode ser um tema interessante, para esclarecer quem ainda tenha dúvidas.

Trata-se do seguinte:

QUEM MANDA

Dizem as regras que cabe ao cavalheiro a árdua tarefa e pesada responsabilidade de comandar.

Ora, a questão de saber quem manda já não é nova na história.

Podem dizer-se muitas coisas, com mais ou menos humor: “ Quando a mulher manda no homem é democracia, quando o homem manda na mulher é ditadura", “Quem é inteligente, obedece”, etc.

Ao longo de muitas gerações criou-se uma sociedade patriarcal onde homem e mulher apreenderam a desempenhar papéis distintos.

É ponto assente que o homem gosta de pensar que manda.

Mas qual o papel da mulher?

Fica então a pergunta: QUEM MANDA?

Fica também uma pequena história, totalmente verídica e esclarecedora:

Estavam presos e a ser julgados os membros de uma família: pai, mãe e filhos.

Uns verdadeiros bandidos. Do pior.

O Juiz tentava saber quem era o chefe da quadrilha e interrogava a testemunha que tinha sido amiga da família.

Depois de várias questões, o juiz perguntou à testemunha:

- Olhe lá, mas afinal quem mandava lá em casa? Era ele ou era ela?

A testemunha fez o olhar vago de quem pensa profundamente, parou uns instantes e respondeu pausada e convictamente:

- Quem mandava era ele, mas às vezes ela não deixava!

Cumprimentos e até sexta.

Fernando Vilas Boas

quinta-feira, maio 10, 2007

Dançar a doer

Sempre pensei que a dança fosse um bálsamo e longe de mim pensar alguma vez que a dança pudesse estar relacionada com a dor, com o sofrimento. Fiquei, por isso, horrorizado ao ler um artigo no jornal Expresso sobre as incríveis dores que acompanham os bailarinos de dança clássica ao longo da vida. Foram entrevistadas bailarinas de renome nacional e que testemunhavam uma vida feita de idas ao médico, ao fisiatra, ao terapeuta porque o mal infligido na coluna, nos pés, nos joelhos era insuportável.

“Ana Lacerda tem 34 anos e uma história difícil de imaginar para quem a vê em palco. «Sabemos que ser bailarino implica ‘deformações’, que naturalmente vão acontecer por causa do trabalho, porque as posições são ‘contranatura’. São opostas ao que deve ser a postura certa, com as pernas e as ancas em rotação para fora, que é a posição ‘en dehors’. Há pessoas que têm mais facilidade do que outras. O nosso trabalho é ir para o palco e não mostrar que está doer.» Os anos passaram, e agora Ana Lacerda afirma que já não consegue dançar sem dores. «É uma constante na vida do bailarino», diz. «Fui tratando com anti-inflamatórios, mas dei cabo do estômago, e com o tempo há dores crónicas que já não passam.» Estas histórias têm sempre um começo. Nestes casos, desde pequeninas. Uma criança que sonha em vestir um tutu e dançar de pontas a pensar no imaginário das princesas, ou uns pais que sonham com esse mesmo mundo para os filhos. Mas esta não é uma vida como as outras. E a aprendizagem da dança clássica tem implicações que põem em risco a saúde e para as quais todos devem estar alertados.” (In Expresso, Suplemento Actual, 28 Abril 2007, p. 5)


De Campos



sexta-feira, maio 04, 2007

Porque dançamos?

Caro Rui:

Lembrei-me de um tema que pode ser interessante tratar no Blogue.

Na verdade, mais do que dançar, importa saber porque o fazemos.

Assim, dei comigo a pensar na razão PORQUE DANÇAMOS e veio-me à ideia o seguinte:

Milan Kundera começa «A Imortalidade» descrevendo a cena de uma senhora de cerca de sessenta anos que, ao responder a um piropo simpático, levanta o braço e faz um gesto com a graciosidade de uma jovem de 20 anos.

Daí conclui que todos nós só tomamos consciência do tempo em certos momentos, permanecendo sem idade o resto do tempo.

Se formos mais além, facilmente percebemos que aquele gesto ou movimento é único.

Porém, qualquer pessoa o pode fazer.

E pode ter sido feito pelos que viveram antes de nós e pelos que viverão depois.

Assim sendo, somos mais vulgares que o gesto e, sendo ele anterior e posterior a nós, assume uma imortalidade que não temos.

Que tem isto a ver com a dança?

Tudo.

A dança é a harmonia do gesto. Do movimento.

Um gesto banal ou inconsciente normalmente não tem significado.

Mas já não é assim com um gesto ou um movimento harmonioso.

Da consciência dessa harmonia resulta a sensação de bem-estar.

Assim, com a harmonia do movimento conseguimos roçar a imortalidade do gesto.

Será que, afinal, não é isso que procuramos da vida?

Cumprimentos e até sexta.

Fernando Vilas Boas

quarta-feira, maio 02, 2007

O par 69

Claro que frequento as danças de salão porque me faz bem à saúde, porque me tem ajudado a reduzir no volume de massa adiposa, porque me divirto imenso, porque tenho imenso prazer em convidar uma donzela para dançar, porque fiz amigos com quem gosto de estar, porque adoro dançar, porque quero aperfeiçoar os meus dotes artísticos, porque sonho talvez um dia em brilhar no salão... Ao pensar nas mil e uma razões que me fazem sair de casa à noite para ir bailar, as duas últimas que enumerei são as que mais me dão trabalho e as mais difíceis de concretizar.


A explicação é muito simples mas tem que ser devidamente contextualizada. Recentemente recebi de um amigo um presente especial: um DVD promocional dos Alunos de Apolo mas também pedagógico, do tipo aprenda a dançar, com demonstrações dos vários estilos e uma secção com exibições e imagens do último campeonato nacional de danças de salão. Enquanto nos deliciávamos com os belos pares esculturais, todos eles maquilhados, aparados, penteados, depilados e bronzeados quanto baste, eis que surge no salão o par 69, tal e qual, para uma Rumba. Dançavam esplendorosamente, não há palavras para descrever a harmonia dos corpos com a música. O único senão era mesmo dançarem quase na perfeição, o que para nós, meros aprendizes, pode ser estimulante mas também muito frustrante! O dito par 69 a dada altura resolve tornar as coisas ainda menos possíveis para os alunos, realizando uma acrobacia de circo, com o cavalheiro a espernear, as pernas completamente afastadas, escusado será dizer com os ditos cujos bem no chão e depois com a ajuda subtil da companheira, sobe automaticamente para a posição base. Claro que assim não vamos lá e podemos apenas nos contentar com umas voltitas para dar o ar da nossa graça!

De Campos

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