Memória
A dança é um exercício de memória.
Um bom dançarino tem sempre uma boa capacidade de memorizar os nomes dos passos e os movimentos.
Mas porque nos falta a memória?
A vida seria insuportável com uma memória imensa.
Todos os traumas, todas as dores estariam sempre presentes.
Teríamos medo de agir, medo de repetir os erros.
A memória é um grande jogo de tetris, em que as novas recordações vão caindo sobre as antigas.
As recordações antigas não morrem, apenas se vão afundando e desvanecendo.
A fragilidade da memória é o grande sinal da nossa humanidade.
Tudo isto me veio à ideia a propósito do “escândalo” que foi a constatação de que os jovens (e não só) não têm ideia de acontecimentos passados (alegadamente) relevantes.
Para muitos, o 25 de Abril, o 1º de Maio, o 5 de Outubro, etc. são apenas feriados.
Como cantava o Carlos Paião: «Viva até S. Bento se nos arranjar muitos feriados para festejar».
Vivemos nesta alegria, que não é só de hoje.
Já quando Trajano cá passou encontrou um povo que não se governa, nem se deixa governar.
Deixo aqui a minha memória do 25 de Abril:
Passou à minha porta uma vizinha assustada, dizendo que em Lisboa os tanques estavam na rua.
Lembro-me de pensar que os Lisboetas eram uns grandes malucos que decidiram lavar a roupa no meio da rua…
Afinal, memória cada um tem a sua…
Por isso é que vamos dançando uns para cada lado!
Fernando Vilas Boas